terça-feira, 26 de agosto de 2008

Auto-retrato em poesia... "Aceita um café?"


Aceita um café?

Oi, você quer café?

Desculpe, você aceita um café?

Quer com açúcar?

Quer um cobertor?

Eu já vou embora... tchau

Estou confuso diante de tantas mudanças, de tantos livros a serem lidos

E tantas companhias que não me consolam. Eu mesmo me estranho com tantas dúvidas, não sei quem sou , onde quero chegar

Se o céu azul é ilusão de ótica

Se o mundo é o cenário da minha história

Então olho o fundo do poço e encontro a luz do meu futuro, que estava presa no passado a espera de um presente que pré-sente os anseios da alma antes dela se entristecer com a metamorfose da vida;

com as intrigas que sucedem o ápice do relacionamento

os acasos que expõem nossos medos à luz da revelação indesejada

as despedidas que parecem a fuga da nossa própria alma

eu mesmo me perco dentro de mim

e me encontro na hora em que - todos estão perdidos - o mundo está perdido

levanto da cama, abro a porta do quarto depois de muito tempo

e continuo me sentindo um estranho no ninho

vendo a correria, a frieza diária, a busca da ilusão declarada

e ouço dizer que isso é a vida

é a diversidade, sociedade moderna

fecho os olhos e o meu coração diz que isso é mentira

que o amor não pode ser enlatado, vendido no crediário nem programado nos despertadores digitais

fecho a porta do meu receio

abro a porta do meu destemido ser

aceito a realidade

e procuro fazer da minha verdade meu plano de vida

dando as mãos a todos que encontrar no caminho singelo da perfeita imperfeição

Éder CCS

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Caminhos, olhares, sentidos

Meu coração pulsa

Estou na estrada, a caminho de algum lugar – espero que seja inspirador
Vou olhando pela janela e aprecio os verdes tão cativantes e sinceros – como os cães
Sou levado a levantar e descer no caminho – a raiz me prende aqui
Fico debaixo de uma sombra à espera do próximo ônibus
Encosto a mochila na árvore e ao olhar para o horizonte percebo que o meu coração pulsa – e pulsa forte
Olho mais adiante e vejo do outro lado da estrada uma árvore em frente ao lago e cercada por um gramado macio
E sinto vontade de cruzar a estrada, pular a cerca, atravessar o lago e tocá-la
Antes de minha vontade torna-se fato consumado e concedido eu já estava atravessando o lago com a camisa lascada pela cerca e os olhos estáticos a contemplar sua copa formosa, arrodeada de pássaros fabricantes de ninho, seu tronco impetuoso, seus galhos delicados, suas folhas graciosas dando contorna à sua geometria perfeita.
E sinto que meu coração pulsa – e pulsa forte
Lhe abraço e respiro seu aroma, me embalo no vento que te faz cantar com o bailar das folhas e o canto dos pássaros espantados do ninho – e meu sinto no meu ninho
Me sinto extensão de sua vida, um ramo, um galho, uma folha, uma flor, uma semente, uma raiz que ama este solo e que é amada por este lago que nem na seca mais ferrenha te abandona, nem que ele tenha que submergir para te manter florida e única à sombreá-lo.
E sinto que meu coração pulsa – e pulsa forte
Me disperso ao rega-la com meu pranto e abraça-la com meu coração
E ela me banha com seu bálsamo tão agradável que parecia que eu tinha acabado de nascer e sentir o primeiro prazer
Beijo o lago fiel, pulo a cerca com cautela, atravesso a estrada com saudades dela, pego a mochila e fico à espera do ônibus sem pressa, pois sinto que meu coração pulsa – e pulsa forte.


Éder Carneiro Cardoso e Silva